quarta-feira, 29 de julho de 2009

WTF

Há alguns dias fui criticado por causa do hábito de sempre levar meu dinheiro solto em meus bolsos. Sei que é anti-higiênico e até tenho uma carteira velhinha, mas a idéia de ser roubado, ter que cancelar cartões e pedir segunda via de todos os tipos de documentos me impede de levá-la comigo com um mínimo de tranqüilidade. Hoje vi uma ideal para minhas necessidades, bem fina, com apenas um compartimento pra cédulas e outro pra moedas. Não estava à procura do acessório, mas o modelo me agradou tanto que pensei em comprar, quando percebi que era de couro legítimo. Não pretendo entrar na esfera da bioética aqui, e sim esclarecer minha posição para continuar o texto.

Uma coisa levou à outra e me vi procurando por modelos semelhantes em outras lojas, deixando clara minha opção por um produto feito com material que não fosse de origem animal. Algum tempo e alguns olhares tortos depois, tentei uma loja direcionada ao público jovem, acreditando que além de uma maior variedade também contaria com a compreensão de quem me atendesse. É engraçado como as pessoas afirmam que o couro é legítimo como se isso fosse uma grande qualidade pra todo mundo, como se hoje não houvesse pessoas fazendo escolhas diferentes; mas não foi o que aconteceu na Colcci.

Tendo indicado logo de início minha preferência, fui apresentado aos modelos disponíveis, todos em "couro sintético", de acordo com uma das vendedoras. Quando comentei que, mesmo não sendo legítimo, o produto de lá acabava sendo mais caro que todos os outros, ela disse que nenhum mais barato que aquele poderia ser legítimo. É óbvio que com essa retórica a moça gerou desconfiança, então perguntei como ela podia me garantir que o produto dela não era de origem animal. Numa cena digna de Buñuel, a paciente senhorita tentou me convencer de uma vez por todas me mostrando um tipo de etiqueta que vinha dentro da carteira, em formato de couro bovino e feita do mesmo material, com os dizeres: 100% Couro.

Eu também não entendi, mas ela pediu que eu sentisse a textura e percebesse que não era legítimo, adicionando que os vendedores eram treinados para dizer os produtos Colcci eram de couro mesmo não sendo, e que se a bolsa feminina que estava na vitrine fosse realmente legítima, não custaria 800 reais, e sim 3000.

Conclusões:
1) A comissão que a Colcci paga aos seus funcionários deve ser bem generosa, já que o produto em questão custava menos de 100 reais.
2) As técnicas de venda não evoluíram do século passado pra cá.
3) Vivemos numa época em que ser consciente de suas escolhas e dos resultados delas pode significar frustração e persistência.

Um comentário:

  1. É tão estranha essa inversão de valores. Dar três mil reais em um pedaço de couro, e achar isso legítimo (o couro, o ato, tudo) é de assustar sobre o caminho que estamos tomando.

    Ando com vontade de coversar com vocês...

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