Algumas pessoas também consideram o fim de ano uma época melancólica, e hoje temos uma seleção nesse clima, dedicada a todos que compartilham esse pensamento.
Durante muito tempo eu não consegui explicar Mountain Battles, um disco que me pegou de surpresa e que ouvi demais durante o ano. Até que certo dia li a resenha que Heather Phares fez para o allmusic e as palavras unfinished e open-ended definiram exatamente o que eu sentia a cada audição daqueles curtos 36 minutos. Continuar nadando contra a corrente depois de 18 anos do lançamento de Pod e, principalmente, manter uma sonoridade que não se mostra ultrapassada depois de tanto tempo deve ser uma coisa natural para as irmãs Deal. Deve ser algo relacionado ao fato de só terem lançado 4 discos (como The Breeders) nessas quase duas décadas. Além do lançamento do quarto álbum, este ano fizeram uma turnê mundial com direito a apresentação inesquecível no Brasil e foram selecionadas para a curadoria da primeira semana do festival All Tomorrow's Parties em 2009. Isso mostra que vivem um grande momento na carreira e que talvez não esperemos tanto para ouvir material novo mais uma vez. A música escolhida para integrar a seleção é das mais bonitas e doloridas que elas já fizeram, e claro, das melhores do ano.
Pouca gente ainda atura artistas que se apóiam na sonoridade oitentista, e espero que com o tempo eu ouça cada vez menos música que fica no saudosismo e não olha pra frente. Este não é o caso de Anthony Gonzalez, a metade que sobrou do M83, que em Saturdays=Youth combinou sua estética quase progressiva de música eletrônica independente com o pop daquela época. Impossível ficar apático ao ouvir os primeiros segundos de You, Appearing, música que abre o disco. E logo depois do alívio pop de Kim & Jessie, Skin of the Night resume a sonoridade que o caracteriza, com vocais pungentes e bateria eletrônica que parece não se encontrar em um padrão.
Victoria Legrand é dona de uma das mais belas vozes que já ouvi, e é impossível imaginá-la cantando em outras paisagens musicais que não as contruídas por ela e Alex Scally no Beach House, em sua maioria noturnas, melancólicas, apaixonadas. Devotion, segundo álbum da dupla, até começa aparentemente ensolarado, mas a segunda faixa logo informa que o tom é outro, e em Gila percebe-se que há momentos apropriados para ouvi-lo, e eles são as madrugadas frias.
Outra banda que está quase completando 20 anos de estrada e continua fazendo nossa alegria é o Magnetic Fields. Estes são mais generosos que as irmãs Deal e já lançaram até um irretocável disco triplo no final da década passada. Este ano, afogaram suas tristezas e algumas poucas alegrias em fuzz e dialogaram com outros irmãos, os Reid, do Jesus and Mary Chain. Contaram com a participação de Shirley Simms, que também colaborou em 69 Love Songs e agora nos deu uma bela música de fossa.
Além do choque das primeiras palavras de Third serem em portugês, também me impressionou o fato do Portishead ter se reinventado em 2008. Ainda hoje não entendo muito bem o fenômeno que parecem ter sido os dois primeiros discos deles (talvez por não ter vivido o momento e ter descoberto alguns anos depois), já que pra mim são sinônimos de repetição, principalmente por terem sido lançados com um intervalo de três anos entre eles. Prefiro fazer uma compilação com a melhor metade de cada um e guardar do lado de PNYC, assim me livro um pouco da impressão de que eles se levaram a sério demais. Em 2004, Beth Gibbons lançou, em parceria com Paul Webb (do Talk Talk), Out of Season, um disco que ainda hoje pode ser considerado a melhor coisa que ela já produziu. Em Third, que além do nome muito ruim, também tem uma das piores capas do ano, ouve-se muitos ecos daquele trabalho, do trabalho do Portishead e também algo que não é uma coisa nem outra, um sinal de que eles podem libertar-se de vez do espírito datado do trip-hop e nos apresentar a novos horizontes.
P.S.: Só fui perceber que The Rip era uma das melhores músicas que o Radiohead não fez depois daquele famoso vídeo em que Thom Yorke e Jonny Greenwood tocam-na sentados no sofá.
Bradford Cox foi uma das figuras mais presentes do ano. Primeiro foi o ótimo disco de estréia de seu projeto solo, Atlas Sound. Depois, metade do disco duplo que o Deerhunter lançaria no segundo semestre caiu na internet, junto com as versões demo de Logos, disco do projeto solo que até agora não viu a luz do dia. Na verdade, tudo aconteceu por causa de uma configuração do MediaFire que deu acesso aos arquivos do próprio Cox. Todos ficaram surpresos e caíram de amores instantaneamente pela nova e mais limpa sonoridade da banda. Mas Cox, que sempre teve a boa vontade de "blogar" sobre tudo que a banda fazia e no que estavam envolvidos, bem como disponibilizar para download versões demo/alternativas/remixes de músicas deles (na maioria das vezes com artwork e tudo), ficou P da vida e fez comentários precipitados de que não iria mais finalizar nada do que tinham "roubado" dele, e que aquelas versões demo seriam tudo que todos ouviriam. Depois voltou atrás, também via blog, e pediu que quem já tivesse baixado e pudesse comprar o disco o fizesse, para ajudar os selos Kranky e 4AD e a banda. Já quase no final do ano, também publicou um comentário sobre o e-mail falso em que um dos membros do Animal Collective PEDIA que, tendo duas músicas de Merriweather Post Pavillion vazado, disponibilizassem todo o álbum logo, pois este teria sido pensado para ser ouvido por inteiro. O último parágrafo do comentário sugeria aos fãs que gravassem seus próprios Merriweather, do jeito que imaginavam/queriam que ele fosse, para se distraírem enquanto esperavam o lançamento oficial. Talvez Cox não precisasse se expor tanto, já que o Deerhunter é uma das melhores bandas independentes da atualidade, e que os discos lançados este ano tanto pela banda quanto por ele como Atlas Sound são sensacionais. Finalizo o post com uma tristeza mais amena: Agoraphobia é uma das faixas mais encantadoras do ano. Considere isto um anti-clímax, pois ela não é cantada por Cox, e sim pelo guitarrista Lockett Pundt.
Durante muito tempo eu não consegui explicar Mountain Battles, um disco que me pegou de surpresa e que ouvi demais durante o ano. Até que certo dia li a resenha que Heather Phares fez para o allmusic e as palavras unfinished e open-ended definiram exatamente o que eu sentia a cada audição daqueles curtos 36 minutos. Continuar nadando contra a corrente depois de 18 anos do lançamento de Pod e, principalmente, manter uma sonoridade que não se mostra ultrapassada depois de tanto tempo deve ser uma coisa natural para as irmãs Deal. Deve ser algo relacionado ao fato de só terem lançado 4 discos (como The Breeders) nessas quase duas décadas. Além do lançamento do quarto álbum, este ano fizeram uma turnê mundial com direito a apresentação inesquecível no Brasil e foram selecionadas para a curadoria da primeira semana do festival All Tomorrow's Parties em 2009. Isso mostra que vivem um grande momento na carreira e que talvez não esperemos tanto para ouvir material novo mais uma vez. A música escolhida para integrar a seleção é das mais bonitas e doloridas que elas já fizeram, e claro, das melhores do ano.
Pouca gente ainda atura artistas que se apóiam na sonoridade oitentista, e espero que com o tempo eu ouça cada vez menos música que fica no saudosismo e não olha pra frente. Este não é o caso de Anthony Gonzalez, a metade que sobrou do M83, que em Saturdays=Youth combinou sua estética quase progressiva de música eletrônica independente com o pop daquela época. Impossível ficar apático ao ouvir os primeiros segundos de You, Appearing, música que abre o disco. E logo depois do alívio pop de Kim & Jessie, Skin of the Night resume a sonoridade que o caracteriza, com vocais pungentes e bateria eletrônica que parece não se encontrar em um padrão.
Victoria Legrand é dona de uma das mais belas vozes que já ouvi, e é impossível imaginá-la cantando em outras paisagens musicais que não as contruídas por ela e Alex Scally no Beach House, em sua maioria noturnas, melancólicas, apaixonadas. Devotion, segundo álbum da dupla, até começa aparentemente ensolarado, mas a segunda faixa logo informa que o tom é outro, e em Gila percebe-se que há momentos apropriados para ouvi-lo, e eles são as madrugadas frias.
Outra banda que está quase completando 20 anos de estrada e continua fazendo nossa alegria é o Magnetic Fields. Estes são mais generosos que as irmãs Deal e já lançaram até um irretocável disco triplo no final da década passada. Este ano, afogaram suas tristezas e algumas poucas alegrias em fuzz e dialogaram com outros irmãos, os Reid, do Jesus and Mary Chain. Contaram com a participação de Shirley Simms, que também colaborou em 69 Love Songs e agora nos deu uma bela música de fossa.
Além do choque das primeiras palavras de Third serem em portugês, também me impressionou o fato do Portishead ter se reinventado em 2008. Ainda hoje não entendo muito bem o fenômeno que parecem ter sido os dois primeiros discos deles (talvez por não ter vivido o momento e ter descoberto alguns anos depois), já que pra mim são sinônimos de repetição, principalmente por terem sido lançados com um intervalo de três anos entre eles. Prefiro fazer uma compilação com a melhor metade de cada um e guardar do lado de PNYC, assim me livro um pouco da impressão de que eles se levaram a sério demais. Em 2004, Beth Gibbons lançou, em parceria com Paul Webb (do Talk Talk), Out of Season, um disco que ainda hoje pode ser considerado a melhor coisa que ela já produziu. Em Third, que além do nome muito ruim, também tem uma das piores capas do ano, ouve-se muitos ecos daquele trabalho, do trabalho do Portishead e também algo que não é uma coisa nem outra, um sinal de que eles podem libertar-se de vez do espírito datado do trip-hop e nos apresentar a novos horizontes.
P.S.: Só fui perceber que The Rip era uma das melhores músicas que o Radiohead não fez depois daquele famoso vídeo em que Thom Yorke e Jonny Greenwood tocam-na sentados no sofá.
Bradford Cox foi uma das figuras mais presentes do ano. Primeiro foi o ótimo disco de estréia de seu projeto solo, Atlas Sound. Depois, metade do disco duplo que o Deerhunter lançaria no segundo semestre caiu na internet, junto com as versões demo de Logos, disco do projeto solo que até agora não viu a luz do dia. Na verdade, tudo aconteceu por causa de uma configuração do MediaFire que deu acesso aos arquivos do próprio Cox. Todos ficaram surpresos e caíram de amores instantaneamente pela nova e mais limpa sonoridade da banda. Mas Cox, que sempre teve a boa vontade de "blogar" sobre tudo que a banda fazia e no que estavam envolvidos, bem como disponibilizar para download versões demo/alternativas/remixes de músicas deles (na maioria das vezes com artwork e tudo), ficou P da vida e fez comentários precipitados de que não iria mais finalizar nada do que tinham "roubado" dele, e que aquelas versões demo seriam tudo que todos ouviriam. Depois voltou atrás, também via blog, e pediu que quem já tivesse baixado e pudesse comprar o disco o fizesse, para ajudar os selos Kranky e 4AD e a banda. Já quase no final do ano, também publicou um comentário sobre o e-mail falso em que um dos membros do Animal Collective PEDIA que, tendo duas músicas de Merriweather Post Pavillion vazado, disponibilizassem todo o álbum logo, pois este teria sido pensado para ser ouvido por inteiro. O último parágrafo do comentário sugeria aos fãs que gravassem seus próprios Merriweather, do jeito que imaginavam/queriam que ele fosse, para se distraírem enquanto esperavam o lançamento oficial. Talvez Cox não precisasse se expor tanto, já que o Deerhunter é uma das melhores bandas independentes da atualidade, e que os discos lançados este ano tanto pela banda quanto por ele como Atlas Sound são sensacionais. Finalizo o post com uma tristeza mais amena: Agoraphobia é uma das faixas mais encantadoras do ano. Considere isto um anti-clímax, pois ela não é cantada por Cox, e sim pelo guitarrista Lockett Pundt.
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